quinta-feira, 16 de julho de 2009

Memorial

Minha vida... de leituras


A leitura possibilita ao homem conhecer diferentes mundos. É assim que viajo pelos mais variados lugares, descobrindo personagens distintos no modo de ser, pensar e agir.

Nasci no dia em que morreu um dos cantores mais conhecidos no mundo, John Lennon. Minha mãe esperou ansiosa sua primeira filha, cujo nome havia sido retirado de um jornal, o que para mim explica meu gosto pela leitura e escrita que há alguns anos se resumia no sonho de ser jornalista.

Cresci numa localidade do interior do município de Caçador. Lembro que livros, revistas e jornais eram raridades em minha casa, pois a situação financeira não permitia suas aquisições. Nessa época, eu viajava com as histórias que minha avó, analfabeta, contava nas noites chuvosas e frias.

Aos três anos de idade, iniciei na pré-escola. Lembro até hoje da minha primeira professora, Rosane Fonseca, que sempre sorridente, com sua voz suave me apresentou as histórias Chapeuzinho Vermelho, O Gato de Botas, Os Três Porquinhos, Rapunzel, Cinderela, A Bela Adormecida e Branca de Neve e Os Sete Anões; esta última era a minha preferida. Eu não conhecia as letras ainda, mas recontava as histórias em casa para meus alunos imaginários, inúmeras vezes. Como eu adorava ver a capa dos livros terem suas imagens transformadas toda vez que a professora Rosane mudava sua posição! Ah!!! Bons tempos aqueles...

Ainda na pré-escola, conhecidas as letras, dei início as primeiras leituras. Recordo-me que aos seis anos viajei a Curitiba com meus avós para visitar meu tio e na rodoviária troquei o refrigerante e o pastel por um gibi da Turma da Mônica. Li tantas vezes aquele gibi! Era uma jóia preciosa em minhas mãos ainda pequenas.

Os primeiros anos de escola foram marcados pela cartilha com seus textos “sem graça”; emaranhados de aliteração e assonância. A escola não possuía biblioteca; os livros eram apenas didáticos. Cursei nessa escola, da rede municipal, apenas a primeira e a segunda séries primárias. Que bom! Na nova escola, uma biblioteca pequena, mas pulsando. Digo pulsando, porque a biblioteca é o coração de uma escola. Voltei a conhecer outras personagens que para mim se confundiam com pessoas reais e novos mundos que se entrelaçavam formando um novelo de conhecimentos. Araí, pele de tigre, as histórias de Raibow Brite, da Bruxa Onilda, Cachinhos Dourados, foram algumas das leituras que marcaram os primeiros anos do ensino fundamental.

Já na quinta série, lembro da professora de português apresentando para a turma o livro da Série Vaga-lume, Aventuras no Império do Sol. Ela acabou lendo alguns capítulos na sala de aula para despertar em seus alunos o interesse de continuar a leitura. Eu fui a primeira a lê-lo, depois da professora, é claro. Sentia-me uma das jogadoras do time de voleibol. Vivi todos os momentos da história e no final acabei integrando a equipe de voleibol da escola. A partir daí, outros livros desta série fizeram parte das minhas leituras até a conclusão da oitava série, Garra de campeão, O rapto do garoto de ouro, Um cadáver ouve rádio, O menino de asas, O mistério do cinco estrelas, A árvore que dava dinheiro...

Nessa fase escolar ainda descobri a doce leitura através do livro Helena, o qual foi o primeiro que apresentei como trabalho. Gostei tanto que ilustrei a apresentação.

Fui muito dedicada com relação ao estudo, primeiramente porque gostava de conhecer o novo, ler, escrever, construir, e segundo porque sempre acreditei que através dele temos a chance de melhorias. Baseada nisso, parti para o ensino médio, com muitas dificuldades, a maior delas foi sair daquela localidade, no interior para estudar na cidade, em meio a tantas pessoas novas que riam quando eu falava o nome do lugar de onde eu vinha, Taquara Verde. Senti-me mal nas primeiras semanas, até a professora de português apresentar a todos da turma a maior nota na primeira avaliação da disciplina das três turmas de primeiro ano, a minha. Suspirei aliviada e conquistei meu espaço na nova escola. Pena que com relação às leituras desse período da minha vida, tenho uma vaga lembrança do único livro que li durante todo o ensino médio, Dona Guidinha do Poço. Acabei deixando as leituras um tanto quanto que abandonadas. Talvez, eu mesma seja a culpada por esse abandono, porém minhas professoras não estimularam a leitura. Isso também é fator importante para a formação ou não de alunos leitores.

Chegando ao fim de mais uma etapa, veio o vestibular, início de outra. Meu sonho: ser jornalista. Mas como? A única universidade presente no município não ofertava esse curso, aliás, continua não ofertando. Então, o curso de Letras foi minha opção, consequência do gosto pela escrita e leitura. Foi isso. E quantas leituras... Memórias de um Sargento de Milícias, Macunaíma, Casa de Pensão, O Cortiço, A Hora da Estrela, Geração do Deserto, O Ateneu, A Normalista, Eurico o Presbítero, O Crime do Padre Amaro, A Escrava Isaura... E, a leitura que marcou meu ensino superior e que para mim é o melhor livro da literatura brasileira, Dom Casmurro.

Enfim, o sonho de minha avó, analfabeta, e minha mãe foi realizado. A formatura. A professora.

Hoje, como professora e leitora, leio artigos, livros relacionados à educação, revistas, jornais, gibis, livros infantis. É isso mesmo, livros infantis. Leio para minha filha e ela para mim. Voltei aos bons tempos da pré-escola, quando antes de conhecer as letras eu viajava pelos lugares encantados, porém a minha professora, hoje, é a minha filha, que diferentemente de mim teve contado com o primeiro livro, Totó, aos nove meses de vida.

Parece que a história só está começando...


Liliane da Silva



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